sexta-feira, março 23, 2018

Morre Miranda, um produtor musical que incentivou muitas carreiras artísticas e criativas







Ontem à noite, veículos de comunicação começaram a noticiar a súbita morte do produtor musical Carlos Eduardo Miranda. Com um vasto currículo, Gordo Miranda deixou um importante legado de contribuições para a música brasileira.


Sempre respeitei muito a sua curadoria musical. Em junho de 2009, época em que estava morando no Rio de Janeiro, escrevi um rápido texto, aqui no blog, sobre uma entrevista dele que eu havia lido na revista Bravo. Miranda falava sobre a carreira na música. Na época me chamou muito a atenção o trecho da entrevista que transcrevo abaixo:


Revista Bravo: Analisando o cenário atual, como você acha que um artista iniciante deve planejar sua carreira?

Miranda: Hoje existem mais possibilidades e condições de se iniciar uma carreira com autonomia. Só que isso traz junto mais responsabilidades. O artista tem de tomar conta do próprio nariz. Começa que a concorrência é enorme. O barateamento das tecnologias possibilitou que muitas pessoas passassem a produzir música. As pessoas têm estúdio em casa. Então, vá lá e faça. As carreiras têm de ser autogeridas. O artista tem de saber botar sua música na internet e saber brigar pelo palco. A equação é internet mais rua. Rua, que eu digo, é o cara assistir a shows, conhecer os lugares nos quais gostaria de tocar, conhecer os outros músicos da sua cena. O artista tem de ser público também. Não é mais o artista lá e o fã aqui. Você tem de pensar que tem uma loja. Por que as pessoas vão comprar na sua e não na outra? O artista está num mercado disputando a atenção das pessoas, uma atenção que é completamente dispersa. E os meios tradicionais ainda são importantes. O cara tem de tentar chegar ao jornal, chegar à rádio. Se for muito carismático, pode dar uma sorte e emplacar. Mas depender só de sorte e carisma, no mundo de hoje, não é viável. O cara tem de construir o caminho para decolar, se preocupar em ter um baita show. Daí é que virá o seu dividendo. Como o público já pega a música de graça na internet, ele só vai te dar dinheiro se quiser. É o conceito de amigo, que o MySpace usa muito bem. O artista tem de ser amigo do fã. Daí o fã vai pensar: "Esse aqui eu quero ver bem, esse faz um trabalho caprichado, vai levar o meu dinheiro".




O relato do Miranda, com vasta experiência no convívio com artistas (diferente de muitos youtubers que hoje querem dar dica sobre carreiras e sucesso, sem ter quase nenhuma vivência...), me fez refletir. Elaborei questões na época para os leitores do blog, mas que são atuais até hoje:


- você já percebeu que é importante definir se quer tocar como livre exercício de sua criatividade ou construir uma carreira profissional na música?

- você tem noção do que é construir uma carreira profissional?

- você entende que a vida de um artista não é apenas a visão romântica e aventureira que lemos nas entrevistas, releases ou biografias, que nela também existe competição?

- você parou para pensar que as novas tecnologias de comunicação, principalmente a internet, podem contribuir para você ter mais autonomia?

- você tem noção de que a música, no âmbito profissional, possui uma cadeia produtiva, onde várias atividades econômicas acontecem, relacionadas a produção, distribuição, comercialização e consumo. Quem é o consumidor da sua música





Miranda (à esquerda) e Thunderbird conversando no Canal Music Thunder Vision 



Muita gente irá lembrar dele como músico do rock gaúcho dos anos 80, como repórter da revista Bizz ou pela sua atuação como jurado nos programas de TV "Ídolos" (derivado do programa britânico "Pop Idol"), "Astros" e "Qual é o seu talento?". Para mim, vai ficar a lembrança de um profissional que foi um verdadeiro mentor de muitas carreiras artísticas e criativas. Miranda atuou como se fosse uma incubadora de artistas, através da ação empreendedora de apostar na diversidade da música brasileira, seja através dos selos independentes que criou, seja através da Trama Virtual, precursor serviço de hospedagem de música de artistas da gravadora Trama.


Assista o Miranda falando sobre sua carreira na entrevista do Vitrola Verde de 2013:



Miranda - Entrevista#01: "Banguela, Titãs e bandas dos anos 90"



Miranda - Entrevista#04: "A cena independente, Manguebeat, Música do Pará e prod. musical"




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* Alexandre Barreto é administrador pela Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (EAD/UFRGS) e MBA em Gestão Cultural pela Universidade Cândido Mendes (RJ) . Empreendedor que dissemina conhecimentos e atua em redes para promover mudanças. Escreveu os livros Aprenda a Organizar um Show e Carreira Artística e CriativaSaiba mais

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